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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Na fronteira da morte

A ciência começa a decifrar as experiências extraordinárias de quem quase passou para o lado de lá ¿ e a revelar o que todos sentimos no fim da vida
Marcos Nogueira, depoimentos a Stefan Gan


A morte não é mais a mesma. Hoje um coração parado não significa que seu dono vá, necessariamente, passar para o lado de lá. Graças a uma série de procedimentos médicos e um aparelhinho chamado desfibrilador, uma parcela razoável de pacientes dados como mortos tem sido "ressuscitada" nas UTIs mundo afora. Várias dessas pessoas têm histórias para contar. São histórias que desconcertam a ciência com perguntas muito difíceis - e que só agora começam a ser respondidas.

Muitos dos que estiveram na fronteira da morte - algo entre 6% e 23% - relatam experiências místicas: túneis que terminam em luzes celestiais, encontros com seres igualmente luminosos, memórias de uma consciência descolada do corpo físico, uma sensação indescritível de paz. Essas lembranças não raro incluem descrições detalhadas de fatos ocorridos entre a "morte" e a "ressurreição". Coisas que, diz a lógica dos vivos, não poderiam ser recordadas por pessoas com atividade cerebral nula.

A veracidade desses relatos (leia alguns depoimentos ao longo desta reportagem) nunca pôde ser provada. Mas os pontos comuns a todas as narrações trouxeram a desconfiança de que se tratava de algo além de mentiras ou delírios. Como é cientificamente inadmissível que mortos tenham qualquer experiência, as estranhas ocorrências foram batizadas de experiências de quase-morte (EQM) - tradução aproximada de near-death experiences, termo cunhado pelo médico americano Raymond Moody Jr., pioneiro no estudo do assunto.

A primeira obra de Moody sobre EQMs, A Vida Depois da Vida, foi publicada 30 anos atrás. Nela, a pesquisa de campo - o autor catalogou 150 casos -- culmina em conclusões de forte inclinação espiritualista. Sejamos razoáveis: mesmo para os céticos, não é difícil se deixar impressionar pelas histórias dessas pessoas. Assim, foram poucos os cientistas com um nome a zelar que se atreveram a explorar a área. O campo ficou livre para os esotéricos, embalados pelos mais de 13 milhões de livros vendidos por Moody. "Por ser muito explorado em meios nada científicos, o assunto virou tabu", afirma a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, da UFRJ, para quem as experiências refletem reações normais de cérebros moribundos.

A situação começou a mudar na virada do milênio. Sem ligar para a rejeição da academia, meia dúzia de corajosos dos EUA e da Europa entrou de avental e tudo nesse pântano entre a ciência, a religião e a filosofia. Seus trabalhos detectaram os processos cerebrais que detonam os eventos da experiência de quase-morte. E mais, fornecem indícios de que a luz no fim do túnel talvez seja experimentada por todo mundo na hora derradeira.

Isso não é pouca coisa. Mas faltam ainda encaixes essenciais para que o quebra-cabeça faça sentido. Se não foi encontrada nenhuma prova da existência da vida além-túmulo, também não se acharam provas de que ela não existe. Falta descobrir o que é a luz. Decifrar o que nos reserva a morte. Para isso, a ciência vai ter de entrar mais fundo no pântano e, quem sabe, expandir suas próprias fronteiras.